História da Maçonaria Feminina
Maçonaria Feminina: História, Liderança e União no Brasil e no Mundo
Por Ir∴ Fernanda Pires∴
A Maçonaria Feminina em suas formas exclusivas percorre há mais de três séculos uma trajetória de afirmação, estudo, virtude e serviço. Sua origem está na intersecção entre os ideais da Arte Real – Luz, Virtude e Fraternidade – e movimento histórico das mulheres traduz-se na legítima reivindicação pelo reconhecimento da igualdade de direitos maçônicos, pela efetiva participação em espaços de poder e de saber, em consonância com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da isonomia.
Ainda que muitas Lojas Masculinas da Maçonaria tenham restringido a iniciação feminina, a história registra mulheres efetivamente iniciadas, a criação das Lojas de Adoção na França do século XVIII e mais tarde, a consolidação de obediências mistas e femininas na Europa, no Reino Unido e no Brasil.
As pioneiras da Maçonaria Feminina
O primeiro nome feminino reconhecido pela história maçônica é Elizabeth St. Leger Aldworth, na Irlanda, iniciada entre 1712 e 1718 em uma loja masculina. Conhecida como a “Lady Freemason”, ela é a primeira mulher com registro oficial de iniciação na Maçonaria regular. Seu exemplo abriu caminho para outras mulheres, mesmo em um tempo em que não possuíam direitos civis ou políticos.
Na França, em meados do século XVIII, surgiram as Lojas de Adoção, oficinas vinculadas às lojas masculinas, com rituais próprios para mulheres. Em 10 de junho de 1774, o Grande Oriente da França (GOdF) regularizou oficialmente essas lojas. Pouco tempo depois, em maio de 1775, a Duquesa de Bourbon, Louise-Marie Thérèse, foi instalada como Grã-Mestra de Adoção da Loja Le Candeur, em Paris, posição que ocupou até 1780. Trata-se de um dos primeiros registros de uma mulher ocupando uma posição elevada equivalente à de Venerável Mestra.
Fundação oficial da Maçonaria Moderna (1717)
Em 24 de junho de 1717, quatro Lojas inglesas se uniram e fundaram a Grande Loja de Londres, marco oficial da Maçonaria Moderna. Esse ato organizou a Ordem como instituição, com regras, constituições (as de Anderson, em 1723) e estrutura administrativa.
Da iniciação ao reconhecimento internacional
O grande salto viria no século XIX. Em 14 de janeiro de 1882, a jornalista francesa Maria Deraismes (1828–1894) foi iniciada na loja Les Libres Penseurs, em Le Pecq. Diferente das adoções, sua iniciação seguiu exatamente o ritual masculino, simbolizando a integração feminina plena.
Poucos anos depois, em 1893, Maria Deraismes e o médico Georges Martin fundaram a Grande Loja Simbólica Escocesa “Le Droit Humain”, que se tornaria a Ordem Maçônica Mista Internacional Le Droit Humain (LDH), a primeira potência mista do mundo, ainda hoje ativa em dezenas de países.
O século XX trouxe a consolidação da Maçonaria Feminina exclusiva. Em 1952, na França, foi erguida a Grande Loja Feminina da França (GLFF), a primeira grande potência maçônica formada apenas por mulheres. Sob a liderança da notável Gisèle Faivre, eleita Grã-Mestre onze vezes, a GLFF, em 1959, abandonou o Rito de Adoção e adotou oficialmente o Rito Escocês Antigo e Aceito, permitindo que mulheres recebessem graus acima do terceiro.
Assim, a trajetória histórica feminina pode ser traçada em etapas fundamentais: a iniciação pioneira de Elizabeth Aldworth na Irlanda; a regularização das Lojas de Adoção na França em 1774; a liderança da Duquesa de Bourbon entre 1775 e 1780; a iniciação plena de Maria Deraismes em 1882; a fundação do Le Droit Humain em 1893; e a consolidação internacional com a GLFF em 1952 e sua adoção do Rito Escocês em 1959.
A Maçonaria Feminina no Reino Unido
Enquanto isso, no Reino Unido, o início do século XX testemunhou a consolidação de duas Lojas exclusivamente femininas: a Fraternidade Honorária dos Antigos Maçons e a Ordem das Mulheres Maçons, que até hoje se reúne em templos próprios no país. Enquanto a Maçonaria masculina britânica se mantinha sob a liderança do Duque de Kent, integrante da família real, as mulheres seguiram construindo sua tradição, demonstrando autonomia e perseverança.
A Maçonaria Feminina no Brasil
No Brasil, os primeiros registros de Lojas de Adoção aparecem em boletins do Grande Oriente do Brasil (GOB) no final do século XIX, ecoando o modelo francês. Ainda que essas adoções não representassem iniciações plenas, revelam que a mulher já ocupava espaço no universo maçônico brasileiro, mesmo que de forma limitada. No século XXI, esse movimento ganha força com a criação de Lojas Femininas autônomas e templos próprios. Em destaque, Campo Grande (MS) tornou-se um polo da Maçonaria Feminina no país.
União, Liderança em Campo Grande (MS) e em todo Brasil
Entre as lojas mais significativas do cenário nacional destaca-se a atuação conjunta da Grande Loja Maçônica Brasileira Fraternidade Feminina; Loja Ervilário Alves da Cunha e do Grande Oriente Feminino – Loja Obreiras da Arte Real nº 03, em Campo Grande (MS). Essa união tornou-se símbolo de cooperação e força institucional da Maçonaria Feminina, colocando a capital sul-mato-grossense como referência no país. Esse marco representou um divisor de águas, demonstrando que a Maçonaria Feminina brasileira deixava para trás o modelo de adoção para consolidar-se como protagonista independente.
Brasil: das adoções aos Templos Femininos
No Brasil, registros do Grande Oriente do Brasil (GOB) já mencionavam a prática das chamadas Lojas de Adoção no final do século XIX, reflexo direto do modelo francês, em que mulheres eram admitidas em rituais adaptados e vinculados às potências masculinas.
No entanto, no século XXI, o movimento ganhou força em caráter iniciático feminino autônomo: Grande Loja Unida Feminina do Brasil (GLUFB): potência voltada exclusivamente à iniciação feminina, com presença pública consolidada e missão definida. Grande Oriente Feminino do Estado de Mato Grosso do Sul (GOFEMS): que, em 2008, ergueu o primeiro templo maçônico exclusivamente feminino do Brasil. Na ocasião, a imprensa registrou que Campo Grande passava a abrigar as ARLS “Divina Luz do Oriente nº 01”, “Filhas da Luz nº 02” e “Obreiras da Arte Real nº 03”, todas integradas ao GOFEMS, sob a liderança noticiada de Dalciza Alves de Oliveira.
Simbologia e Filosofia
Assim como na tradição masculina, a Maçonaria Feminina adota símbolos como o esquadro, o compasso, a pedra bruta e a Luz, representando disciplina, evolução, a busca pelo conhecimento e iluminação. A diferença, contudo, está na ênfase: muitas Lojas Femininas valorizam aspectos como a solidariedade, a sensibilidade e a intuição feminina, integrando esses valores à prática ritualística e à reflexão filosófica, reforçando virtudes que complementam a filosofia maçônica.
O que distingue: feminina, mista e para-maçônica
É importante distinguir as três vertentes hoje existentes: Maçonaria Feminina: iniciação exclusiva para mulheres, com rituais e estrutura própria (ex.: GLFF na França, Lojas Femininas no Brasil). Maçonaria Mista: iniciação de homens e mulheres em igualdade ritualística (ex.: Le Droit Humain). Entidades para-maçônicas femininas: não realizam iniciação, mas desenvolvem trabalhos de filantropia e apoio social, como a FRAFEM (Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul, do GOB) e a Fraternidade Feminina da COMAB.
Valores e virtude
A Maçonaria ensina que seus membros devem ser “livres e de bons costumes”. O que diferencia um(a) bom Maçom é a sua conduta, sua adesão à virtude e seu compromisso com a construção de uma sociedade melhor. A mulher, por sua essência educadora, cuidadora e organizadora, acrescenta ao simbolismo maçônico a energia do equilíbrio entre o Sol (masculino) e a Lua (feminino), assegurando a harmonia da Ordem.
Da Lady Freemason à GLFF, das Lojas de Adoção ao Le Droit Humain, até a consolidação das lojas brasileiras, a história da Maçonaria Feminina é uma narrativa de resistência, virtude e conquista. No Brasil, a atuação conjunta da Grande Loja Maçônica Brasileira Fraternidade Feminina – Loja Ervilário Alves da Cunha e do Grande Oriente Feminino – Loja Obreiras da Arte Real nº 03, entre inúmeras outras Lojas Maçônica Feminina no Brasil é prova de que o verdadeiro futuro da Maçonaria Feminina está na união, no respeito e na fraternidade.
Mais do que uma luta por espaço, a Maçonaria Feminina reafirma o princípio universal da Arte Real: “Ninguém pode negar à mulher o direito de trabalhar maçonicamente. Ir∴Fernanda Pires∴”.
Assim, Irmãs e Irmãos, sob o olhar do Grande Arquiteto do Universo, prosseguem unidos, ombro a ombro, trilhando o caminho sagrado da Lapidação e do Aperfeiçoamento. Que a Luz os conduza, a Virtude os fortaleça, e a Fraternidade os una na eterna senda da Arte Real. Onde houver Luz, os caminhos se apresentarão claros, iluminados e sem obstáculos. A Luz é expressão da Verdade, da Sabedoria, da Liberdade, do Conhecimento e da Redenção. Cumpre a todos nós trilhar a Senda do Conhecimento por meio da Iluminação interior, despertando em plena consciência os atributos divinos e buscando, com firmeza e dedicação, a Unificação.
Faça-se a Luz… e a Luz será feita.
Autora, Ir∴ Fernanda Pires∴ M∴M∴I∴, S.’.G.’.I.’.G.’. 33º

As Origens
A Maçonaria Feminina nasceu da necessidade de reconhecer e valorizar a participação das mulheres nos ideais maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade. Desde o século XVIII, mulheres corajosas lutaram pelo direito de participar ativamente desta instituição secular.
Século XVIII – Os Primeiros Passos
Em 1751, na França, foi fundada a primeira Loja de Adoção, permitindo que mulheres participassem de rituais maçônicos. Este foi o primeiro reconhecimento formal da participação feminina na Maçonaria.
Século XX – Consolidação
O século XX marcou a consolidação da Maçonaria Feminina como uma instituição respeitada e reconhecida mundialmente, com milhares de Irmãs trabalhando pelos ideais de justiça social e desenvolvimento humano.
Século XIX – Expansão e Reconhecimento
Durante o século XIX, a Maçonaria Feminina se expandiu pela Europa e América, com a criação de diversas obediências exclusivamente femininas, estabelecendo rituais e tradições próprias.
Era Contemporânea
Hoje, a Maçonaria Feminina está presente em todos os continentes, promovendo valores como educação, filantropia e desenvolvimento social, mantendo viva a tradição maçônica feminina.
Princípios Fundamentais
Liberdade
Liberdade de pensamento, expressão e ação dentro dos princípios éticos
Igualdade
Igualdade de direitos e oportunidades entre todas as Irmãs
Fraternidade
União fraternal baseada no respeito mútuo e apoio solidário